11.29.2013

A Sul. O sombreiro

 
Li já há algum tempo um livro delicioso. O primeiro livro de autor africano que começo e termino. Excluo Camus, mais ao gosto da triologia europeia da altura: Fome/Guerra/Miséria e sem esse sabor africano e Agualusa, com imaginário autóctone muito engraçado, mas escrita mais ocidentalizada.
"A Sul. O sombreiro" é uma monografia dos primeiros anos de Angola, vista pelos olhos da populaça embrutecida que o povoava, à semelhança dos que por cá sobreviviam, entre governadores "filhos da puta" e colonizadores de seiscentos e setecentos.
O livro, de uma coerência da escrita sem mácula, usa termos africanos (sempre deixando, pela sonoridade, perceber a coisa dita) com os que por cá são conhecidos. Pontuação pouco clássica, mas de uma agilidade de discurso notável.
Miolo muito bem paginado e com revisão sem nada a apontar, apresenta uma capa arriscada que contempla referência, mapa e imagética, com coloração diversa, mas que resulta muito bem.
Depois de tentar leituras diversas africanas, de Mwangi a Mia Couto, sempre sem grande sucesso, Pepetela abre-me as portas da literatura africana, cheia de sonoridades e de sentidos bem vivos, tal como havia sentido no primeiro livro de contos africanos infantis que em criança minha mãe me lia, entre uma moralidade pouco ocidental e histórias de cabaças mágicas, crocodilos falantes, pássaros com língua própria e outros.
Pepetela acaba de lançar novo livro natalício sobre o qual ainda não passei os olhos, mas se for da qualidade deste, vai muito bem a língua portuguesa.

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